uma da manhã e frio
nada pra fazer
nada que eu queira fazer
acho que gostaria de ter uma mulher,
mas só vejo meninas
ainda assim, faz frio
só vejo destino
destino e expansão, indo além
não indo a lugar nenhum
algumas portas se fecham, outras se abrem
e muitas vezes não escolhemos quais
nem quais abrir de novo, só há o fechar
um eterno fechar que abre de novo
ou que então nunca
me pergunto por meus ancestrais
e também por meus descendentes, nesse
futuro tão fechado
um homem não é nada sem uma tribo,
a solidão não é um destino
é uma porta fechada, sem glória alguma
somos separados de nossas origens
sem passado, sem destino
ou futuro
só o que peço essa noite são sonhos
sonhos de um passado, na companhia de homens
que não conheci
um bocado de sabedoria, um dividir do pão
algo que ajude a suportar o frio
não homens falsos, com suas barbas falsas
somos todos falsos, ainda que poucos admitam
somos só o que vimos na televisão
e aprendemos a fingir uns aos outros
pseudo-homens sem propósito
mas, ah, essa noite não
não os vejo, mas enxergo suas silhuetas
me vejo nelas, ainda que apenas um
pálido reflexo
em volta do fogo
e uma pequena fagulha salta na minha direção
homens de outrora, falem comigo
me dêem suas forças, compartilhem sua dor
sua sabedoria
e façamos dessa chama algo que incendiará
o mundo
rumo a um futuro glorioso!